Na madrugada do dia 5 de março de 1916, o transatlântico Príncipe de Astúrias passava pela costa de Ilhabela em direção ao Porto de Santos, no litoral paulista. Era uma segunda-feira de carnaval e os tripulantes dançavam marchinhas no salão de baile do navio, quando a embarcação mudou de direção e se chocou contra uma barreira de corais na Ponta da Pirabura. Assim começa o maior naufrágio de que se tem conhecimento na costa brasileira.

O navio foi construído em 1914, na Escócia, sob encomenda de uma companhia espanhola. O transatlântico contava com uma estrutura de duplo casco, assim como a utilizada no Titanic e por isso inspira comparações. Na época essa tecnologia era conhecida por ser segura e ajudar a tornar a viagem mais rápida.

O Príncipe das Astúrias operava de forma mista, levando tanto pessoas quanto cargas. A estrutura tinha três classes com diferentes acomodações, comportando 1.890 pessoas - entre tripulantes e passageiros.

 

“A rota de travessia do Atlântico durava cerca de 30 dias, saindo de Barcelona e escalando em Cadiz e Las Palmas na Espanha, Canárias, além do Rio de Janeiro e Santos, no Brasil, Montevidéu, no Uruguai, antes de chegar a Buenos Aires” , explica o historiador Fernando Alves.

 

O transatlântico chegou a concluir seis viagens entre Barcelona e Buenos Aires e estava na sétima travessia quando naufragou.

Período histórico

 

 

“Durante esse período, houve um declínio da Europa, com desemprego, fome e miséria. Essa instabilidade política e social favoreceu o surgimento de regimes totalitários. Diante dessa questão é que se constata o número significativo de tripulantes no porão da embarcação, fugindo da Primeira Guerra Mundial”, conta o historiador.

 

Com a fuga da Europa, todas as classes dos navios na época saíam completamente cheias dos portos, porém, nem a capacidade total era suficiente para comportar todos que tentavam embarcar.

Oficialmente, em sua última viagem, o Príncipe de Astúrias transportava 654 passageiros. Entretanto, muitos estudiosos acreditam que havia pessoas viajando junto às cargas no porão, de forma clandestina, em uma tentativa desesperada para sair dos países em guerra.

Estima-se que no total, pelo menos 1 mil pessoas estavam no navio durante o naufrágio.

 

Cargas Misteriosas

 

Sendo um navio misto, todo o tipo de carga podia ser encontrada em seus porões, mas em sua última viagem, itens curiosos estavam sendo transportados.

Entre eles, 12 estátuas que haviam sido encomendadas pela Espanha para serem colocadas no Parque Palermo, em Bueno Aires, como parte do monumento “la Carta Magna y las Cuatro Regiones Argentinas” - inaugurado em comemoração aos 90 anos da independência da Argentina. As peças foram feitas de bronze e custaram 40 mil libras-ouro no total, um valor expressivo na época.

Em 1990, uma das estátuas foi encontrada por mergulhadores e atualmente está exposta no Serviço de Documentação Geral da Marinha, no Primeiro Distrito Naval, no Rio de Janeiro. Das outras 11, somente pedaços foram recuperados.

Além das estátuas que têm registros oficiais, houve boatos de que 11 toneladas de ouro estariam sendo transportadas na embarcação, porém a suposta carga preciosa nunca teve uma comprovação.

 

Diário do Naufrágio

 

As quatro horas da manhã do dia cinco de março de 1916, 16 dias após sua partida de Barcelona, uma forte chuva caía no Litoral Norte, deixando a visibilidade extremamente baixa até mesmo para o experiente capitão José Lotina.

Não houve outra alternativa a não ser mudar a rota que seguiam. Em vez de continuar em mar aberto em direção a cidade de Santos, fizeram um desvio para a parte rasa, sem saber que estavam entrando em uma área de corais.

Os tripulantes não tiveram tempo de fazer nada: o navio bateu contra a parte dos corais submersos da Ponta da Pirabura, na costa de Ilhabela, abrindo uma enorme fenda de pelo menos 40 metros no casco. O que aconteceu depois do impacto é incerto.

Sobreviventes chegaram a relatar que a água começou a invadir a sala de máquinas e duas das caldeiras explodiram. Muitas pessoas morreram de imediato e várias outras morreram ao serem tragadas para o fundo do mar, por causa da sucção gerada pela pressão. O corpo de José Lotina nunca foi encontrado, assim como o de seu primeiro oficial, Antônio Salazar Linas.

Depois da explosão, a embarcação se partiu em três pedaços e em menos de cinco minutos, o Príncipe de Astúrias estava completamente no fundo do mar.

Resgate

 

Algum tempo depois do naufrágio, o navio inglês Vegas, que fazia a mesma rota em direção a Santos, percebeu que algo estava acontecendo próximo à costa de Ilhabela e se aproximou do local.

O transatlântico ajudou no resgate de alguns sobreviventes, que conseguiram nadar ou se seguraram em algum tipo de objeto até se salvarem. Além de sobreviventes, alguns corpos foram recolhidos do mar pela tripulação.

 

“Os corpos se espalharam pelo Litoral Norte e quando encontrados, foram enterrados nas praias. Cerca de 600 pessoas foram enterradas na praia da Serraria em Ilhabela e 300 em Castelhanos”, conta Fernando Alves sobre as vítimas do navio.

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